21 de fevereiro de 2011

Tenho um fantasma que mora logo ao lado.


Todos nós temos um fantasma escondido. Injetado em nosso intimo, os monstros fazem festa dentro de nós. Situações, pessoas, fraquezas particulares...Nossa casa de terror construída por infinitas razões, e não importa. Somos como crianças diante do que nos atormenta. Adultos em estado fetal, precisando de colo quando a sociedade insana nos exige sanidade a todo tempo. Pisando em cacos de vidros, e segurando os pingos do coração, devemos ser fortes mesmo quando nos sentimos fracos. Você sente vontade de esconder o seu corpo inteiro debaixo da cama, e pede baixinho para que o fantasma que te dói feito facada profunda vá embora. Você sente vergonha por ser tão frágil, mas, no fundo, você não escolheu esse filme de terror. Tem a chance de apertar o pause, mas sabe que a cura só vem quando quebrar a tela do vídeo do passado que tantas vezes volta àquele mesmo filme mesmo contra a sua vontade. Você precisa que o fantasma vá embora, mas sabe que está sozinha, pois tem receio de que as pessoas possam trazer novos monstros, novas dores. E você tem tanto medo de sofrer, e não se sente covarde por isso. Apenas no seu direito de querer exterminar o que te puxa para baixo, tantas e tantas vezes. E, então, solitária, você recebe visitas dos seus fantasmas particulares em sua mente e coração. E por fim você sabe que está esgotada de tanto lutar. E deseja com um desejo que arde feito brasa ser uma guerreira feroz, e assim massacrar sem pena quem te fere e rouba a paz. Pois você só quer uma vida sem golpes baixos, sem armas, sem perdas. Uma vida depois da guerra. E se pergunta sem pausas : quando esse dia vai chegar?

Thais Viotto.

1 de fevereiro de 2011

Meu querido longe amor.


A idéia de um amor e uma cabana é uma idealização que não se sustenta. Queremos o ninho, mas também queremos voar juntos. Sempre que saímos pra rua, nós conhecemos novas pessoas, lugares, sensações. Tem graça estando sozinho? Podemos compartilhar nossas descobertas com nosso amor através do telefone, mas muito melhor é quando a pessoa que diz estar ao nosso lado está de fato ao nosso lado, não apenas metaforicamente. Quando dizemos “tenho alguém”, não se está propagando o sentimento de posse como quando dizemos “tenho um carro” ou “tenho um iPod”. Ter alguém significa ter companhia para o teatro, o cinema, os jantares entre amigos, as caminhadas de sábado. Ter com quem desabafar quando a angústia aperta, ter com quem dançar, ter com quem viajar, ter com quem dividir os momentos de prazer e também as indiadas, ter com quem trocar um olhar cúmplice em meio à multidão, ter com quem praticar um esporte, comprar condimentos para cozinhar à noite, escolher um DVD, reclamar das coisas que não deram certo, pedir uma carona no final do expediente, fazer uma surpresa. Por mais que se diga que a tecnologia aproxima as pessoas, você não exercita a convivência por e-mail ou qualquer outra ferramenta virtual, e mesmo o telefone é paliativo: minimiza a distância, mas não reforça o vínculo. Viver junto é junto mesmo. Não estou levantando a bandeira do grude, bem sei como é importante uma área de respiro, mas estamos falando de ligações em que a presença física é raridade, daqueles casais que só frequentam endereços secretos, uma ou duas vezes por semana. Que não conhecem os amigos e o local de trabalho de quem dizem amar. Que reservam para seus raros encontros a lingerie mais bonita e as palavras mais doces, mas que não abrem janelas, desligam o celular, deixam a porta trancada. Um caso. Um affair. Um microcosmo onde só cabem dois habitantes. Romântico, pulsante, febril, mas chega uma hora que asfixia. Sair do casulo, namorar ao ar livre, testemunhar as reações um do outro diante dos acontecimentos mundanos, tudo isso me parece mais divertido: uma relação a dois e múltipla ao mesmo tempo. O que reforça a intimidade é ter o que compartilhar, não o que esconder.

Martha Medeiros.