30 de dezembro de 2010

Estrangeira.



Estar sozinha em um país tão distante é quase como viver uma filosofia. Acordar em um frio que pede cama e caminhar por quase dois quilômetros observando cada detalhe chega a ser quase surreal. Olhar os espanhóis passeando com seus cachorros, observar as placas de todas as lojas por onde passo, e encontrar infinitas novidades por um caminho que sempre faço me torna cada dia mais estrangeira. Barcelona é linda, apesar de não me pertencer. Pela primeira vez na vida me sinto fora da minha zona de conforto. E talvez isso seja exatamente tudo o que eu precisava.

Thais Viotto.

21 de dezembro de 2010

Que se parta!


Não é que acordei me achando hoje? Agora neguinho me trata mal e eu não deixo. Agora neguinho quer me judiar e eu mando pastar. Dei de achar que mereço ser amada.


Tati Bernardi.

11 de dezembro de 2010

Para pensar...


Dar a outra face é um símbolo de maturidade e força interior. Não se refere à face física, mas à psíquica. Dar a outra face é procurar fazer o bem para quem nos decepciona, é ter elegância para elogiar quem nos difama, altruísmo para ser gentil com quem nos aborrece. É sair silenciosamente e sem estardalhaço da linha de fogo dos que nos agridem. Dar a outra face previne homicídios, traumas, cicatrizes impagáveis. Os fracos se vingam, os fortes se protegem.

Augusto Cury.

22 de novembro de 2010

Meu milagre cotidiano


Aprendi a dar graça por tudo o que vivo. Aprendi a ver nos pequenos detalhes a mão divina de Deus. Antes vivia a vida com a pressa de quem quer logo alcançar aquilo que nem se sabe o que é. Hoje vivencio cada momento devagar, pois sei que em cada instante há o toque suave de quem me criou. Observo mais e falo menos. E sorrio nos momentos em que sinto vontade de dizer palavras tristes - que ferem, principamente, meu coração. Tenho passado por lutas. E que lutas! E tenho aprendido a chorar um choro solitário, pois o que vivencio é realmente só meu. Há quem diga que o sofrimento é a prova concreta da ausência de Deus. Eu penso justamente o contrário. Não sai da minha cabeça que são os pontapés que a vida me dá que me fazem dar passos largos para frente. As alegrias me empurram, mas também me acomodam. É claro que quero ser mais feliz do que triste. Mas me sinto realizada por ser alguém que sabe abrir as portas para a dor - apesar de não saber evitar a chuva de lágrimas. Bem. Apesar dos pesares - e essa realmente é uma das minhas expressões favoritas, vivo um momento mágico. Sou firme e jamais alienada. Pois hoje não espero milagres exacerbados para acreditar. Aprendi, simplesmente, a enxergar os detalhes da vida como sendo uma soma maravilhosa dos milagres de Deus. É assim que vivo e sou feliz. Não vivo esperando. Mas espero vivendo!

Thais Viotto.

16 de novembro de 2010

Amor Farpado


Uma hora dizes que eu sou sua flor. Outrora dizes eu ser a corrente invisível que te acorrenta num quarto escuro. Esfrego meus olhos, mas não vejo o que me falas. Já estou maluca nessa guerra de amor e ódio que me ataca todos os dias. O que, afinal, eu sou? A rosa ou o espinho? Preciso me encontrar. Talvez tenha razão. Devo te fazer infeliz feito infelicidade. É que o me dizes vezenquando. Será que é pra acreditar? Antigamente eu te achava um tolo por dizer esses absurdos. Mas de tanto que me conta essas histórias mal contadas, já começo a acreditar que te judio feito dó. Chega uma hora em que o négócio entra no ouvido da gente...E aí é que se começa a acreditar. Hoje mesmo meti umas roupas na mala, pensando em fugir de te fazer doer. Mas os seilás me acompanham porque essa história de que eu mais te prendo do que te solto, pra mim, é muito das complicada. Acho mesmo é que é coisa da tua cabeça. Mas tudo bem, a gente dança conforme a música - não é assim que se dizem? E eu entrei nessa dança pra te fazer feliz...E quando tu me dizes que eu te cerco feito cerca farpada...Por mais que eu não acredite...Meu amor doce, tudo já não tem mais graça não.

Thais Viotto.

8 de novembro de 2010

A todos os peludinhos desse mundo!


De vez em quando escuto alguém me dizer:
- Pára com isso! É apenas um cão!

Ou então:
- Mas é muito dinheiro para se gastar com ele! É apenas um cão.

Essas pessoas não sabem do caminho percorrido, do tempo gasto ou dos custos que significam "apenas um cão". Muitos dos meus melhores momentos me foram trazidos por "apenas um cão". Por muitas horas em minha vida, minha única companhia era "apenas um cão", e eu não me sentia desprezado. Muitas de minhas tristezas foram amenizadas por "apenas um cão". E naqueles dias sombrios, o toque gentil de "apenas um cão" me deu conforto e motivo para seguir em frente. Se você também é daqueles que pensam que ele é "apenas um cão", com certeza deve entender bem expressões como "apenas um amigo", "apenas um nascer de sol", "apenas uma promessa". "Apenas um cão" deu à minha vida a verdadeira essência da amizade, da confiança, da pura e irrestrita felicidade. "Apenas um cão" faz aflorar a compaixão e a paciência que fazem de mim uma pessoa melhor. Por causa de "apenas um cão" eu me levanto cedo, faço caminhadas e olho com mais amor para o futuro. Porque pra mim - e para pessoas como eu - não se trata de "apenas um cão", mas da incorporação de todos os sonhos e esperanças do futuro, das lembranças afetuosas do passado, da pura felicidade do momento presente. "Apenas um cão" faz brotar o que há de bom em mim e dissolve meus pensamentos e as preocupações do meu dia. Eu espero que algum dia algumas pessoas entendam que não é "apenas um cão", mas é aquilo que me torna mais humano e me permite não ser "apenas um homem". Então, da próxima vez em que você escutar a frase "É apenas um cão", somente sorria para essas pessoas porque elas apenas não entendem.

Sandra Dee.

7 de novembro de 2010

Todo tempo do mundo?


De alguma forma a vida sempre continua. As folhas sempre caem. As horas sempre passam. E as pessoas novas sempre aparecem. Você passa anos a fio se dedicando a um deteminado curso ou serviço, mas quando olha a sua volta...As sombras que antes te protegiam do sol não estão mais lá. Você cuidou, regou. Chegou até mesmo a implorar. Mas não adianta só uma parte fazer. Amor é uma troca de favores, meu amigo. Quer você se escandalize com isso ou não. Amor não é de graça, não. Ele custa caro. Horas de dedicação. E se o tempo anda curto, dá-se um jeito; qualquer torpedo que faça o outro lembrar: psiu, apesar dos pesares, ainda estou aqui! Amor-irmão, amor-amigo, amor-paixão, amor-amor. Seja lá qual for o tipo de amor, sem impulso, ele não sobrevive. Seca até sumir. E sempre existe alguém para preencher o lugar vazio. Por mais doa, por mais que, a princípio, pareça um pouco cruel. Quem quer para sempre, que o faça por merecer. Que ligue perguntando do dia. Que questione os detalhes - quem não gosta de sentir interesse? Que apareça de surpresa. Porque, no fundo, qualquer relacionamento grita por atenção. Ninguém quer uma conversa pela metade, nem uma história contada sem que o outro a vivencie também. O tempo é precioso. E não existe melhor flecha do que dedicar o seu relógio àquela pessoa que espera o melhor de você. Se a pressa consome a sua vida, se o desinteresse faz parte do seu dia-a-dia: suma, meu caro. Não há ser nesse planeta que se sinta alegre em ser deixado para depois. Circunstâncias passam e voltam...Pessoas que já esperaram por demais podem se cansar. Um dia fazem as trouxas e, meu amigo, montam no cavalo. Quanto vale quem você ama? O sacrifício do seu tempo? Ou será que ela, na verdade, atrasa a sua vida e te faz inventar desculpas? Assim como Deus, quem espera de alguém não suporta o morno. Ou é, ou não é. E afinal, você se dedica com tudo o que pode ou só com o que tem? É a sutil diferença entre a flecha e a facada, meu rei.

Thais Viotto.

4 de novembro de 2010

Não conta pra ninguém


A respiração aos olhos de quem me vê respira normal feito carne e osso. Mas eu torço para que ninguém chegue perto do meu coração, que pulsa pulsante feito uma bomba relógio. É que quando eu o vejo tudo fica num bagunçado gostoso de ser vivido. O mundo não gira normal. Algum cabo alienígena se conecta a mim, e eu saio flutuando mesmo quando saio andando e me comporto como uma menina normal. Deve ser amor. Ou seja lá o que for, só pode ser amor. A minha mão grudada na mão dele. Nunca tive uma sensação tão boba e romântica - mas tão intensa como essa. Seilá, estive pensando. Acho que não deve existir momento melhor. E quando ele me olha com aqueles olhos do tipo que não existe mais ninguém no mundo para olhar? Óh Deus, isso devia ser proibido de tão bom. Eu poderia viver para sempre com esse olhar. E o beijo cheio de luz e sabor? Vontade de não desgrudar mais os lábios, como se tivesse medo de me perder nesse mundo meia boca sem eles. É aquele típico amor quase perfeito. Em que cada pequena ação representa um tesouro inalienável. E quando eu me pego viajando na saudade, me pego também com as mãos grudadas feito uma boba temente. Pedindo para os céus que esse amor nunca acabe. Que esse sentimento lindo nunca vá embora. Que essa sensação de ser única não seja levada por nenhuma tempestade. Porque, ah meu Deus, como eu sou perdidamente maluca por ele. Como eu sonho nos anos seguintes e seguintes...Só com ele e aquele olhar louco de que eu sou a única na face da Terra. Repito e repito com as mãos pregadas em uma prece: prometo que serei uma boa menina e uma linda mulher se puder viver com isso para sempre! Amém!

Thais Viotto.

25 de outubro de 2010

Alegre tristeza


Se eu disser pra você que hoje acordei triste, que foi difícil sair da cama, mesmo sabendo que o sol estava se exibindo lá fora e o céu convidava para a farra de viver, mesmo sabendo que havia muitas providências a tomar, acordei triste e tive preguiça de cumprir os rituais que faço sem nem prestar atenção no que estou sentindo, como tomar banho, colocar uma roupa, ir pro computador, sair para compras e reuniões – se eu disser que foi assim, o que você me diz? Se eu lhe disser que hoje não foi um dia como os outros, que não encontrei energia nem pra sentir culpa pela minha letargia, que hoje levantei devagar e tarde e que não tive vontade de nada, você vai reagir como? Você vai dizer “te anima” e me recomendar um antidepressivo, ou vai dizer que tem gente vivendo coisas muito mais graves do que eu (mesmo desconhecendo a razão da minha tristeza), vai dizer pra eu colocar uma roupa leve, ouvir uma música revigorante e voltar a ser aquela que sempre fui, velha de guerra. Você vai fazer isso porque gosta de mim, mas também porque é mais um que não tolera a tristeza: nem a minha, nem a sua, nem a de ninguém. Tristeza é considerada uma anomalia do humor, uma doença contagiosa, que é melhor eliminar desde o primeiro sintoma. Não sorriu hoje? Medicamento. Sentiu uma vontade de chorar à toa? Gravíssimo, telefone já para o seu psiquiatra. A verdade é que eu não acordei triste hoje, nem mesmo com uma suave melancolia, está tudo normal. Mas quando fico triste, também está tudo normal. Porque ficar triste é comum, é um sentimento tão legítimo quanto a alegria, é um registro de nossa sensibilidade, que ora gargalha em grupo, ora busca o silêncio e a solidão. Estar triste não é estar deprimido. Depressão é coisa muito séria, contínua e complexa. Estar triste é estar atento a si próprio, é estar desapontado com alguém, com vários ou consigo mesmo, é estar um pouco cansado de certas repetições, é descobrir-se frágil num dia qualquer, sem uma razão aparente – as razões têm essa mania de serem discretas. “Eu não sei o que meu corpo abriga/ nestas noites quentes de verão/ e não me importa que mil raios partam/ qualquer sentido vago da razão/ eu ando tão down...” Lembra da música? Cazuza ainda dizia, lá no meio dos versos, que pega mal sofrer. Pois é, pega mal. Melhor sair pra balada, melhor forçar um sorriso, melhor dizer que está tudo bem, melhor desamarrar a cara. “Não quero te ver triste assim”, sussurrava Roberto Carlos em meio a outra música. Todos cantam a tristeza, mas poucos a enfrentam de fato. Os esforços não são para compreendê-la, e sim para disfarçá-la, sufocá-la, ela que, humilde, só quer usufruir do seu direito de existir, de assegurar seu espaço nesta sociedade que exalta apenas o oba-oba e a verborragia, e que desconfia de quem está calado demais. Claro que é melhor ser alegre que ser triste (agora é Vinícius), mas melhor mesmo é ninguém privar você de sentir o que for. Em tempo: na maioria das vezes, é a gente mesmo que não se permite estar alguns degraus abaixo da euforia. Tem dias que não estamos pra samba, pra rock, pra hip-hop, e nem pra isso devemos buscar pílulas mágicas para camuflar nossa introspecção, nem aceitar convites para festas em que nada temos para brindar. Que nos deixem quietos, que quietude é armazenamento de força e sabedoria, daqui a pouco a gente volta, a gente sempre volta, anunciando o fim de mais uma dor - até que venha a próxima, normais que somos.

Martha Medeiros.

Sensível que dói


Ser sensível nesse mundo requer muita coragem. Muita. Todo dia. Esse jeito de ver além dos olhos, de ouvir além dos ouvidos, de sentir a textura do sentimento alheio, tão clara, no próprio coração. Essa sensação, às vezes, de ser estrangeiro e não saber falar o idioma local, de ser meio ET, uma espécie de sobrevivente de uma civilização extinta. Essa intensidade toda em tempo de ternura minguada. Esse amor tão vívido em terra em que a maioria parece se assustar mais com o afeto do que com a indelicadeza. Esse cuidado espontâneo com os outros. Essa vontade tão pura de que ninguém sofra por nada. Esse melindre de ferir por saber, com nitidez, como dói ser ferido. Ser sensível nesse mundo requer muita coragem. Muita. Todo dia. Essa saudade de fazer a alma marejar de um lugar que não se sabe onde é, mas que existe. Essa possibilidade de experimentar a dor, quando a dor chega, com a mesma verdade com que experimenta a alegria. Essa incapacidade de não se admirar com o encanto grandioso que também mora na sutileza. Essa vontade de espalhar buquês de sorrisos por aí, porque os sensíveis, por mais que chorem de vez em quando, não deixam adormecer a idéia de um mundo que possa acordar sorrindo. Pra toda gente. Pra todo ser. Pra toda vida. Eu até já tentei ser diferente, por medo de doer, mas não tem jeito: só consigo ser igual a mim.

Ana Jácomo.

24 de outubro de 2010

Inversão


Alguns valores que eram presentes sem nenhum esforço se perderam. Viraram exigências que separam. Hoje desci na lama. Tirei meu salto e me enfiei no buraco que encontrei no caminho. Procurei feito quem procura uma barra de ouro no meio da lama. Gritei até fazer eco. Mas não me ouviram. Dei tapas na cara do meu jeito polido. Mas acho mesmo é que os efeitos das minhas atitudes meigas estão virando comédia da vida real. Agora tudo virou guerra. O que fluía agora precisa ser anotado e colocado na lista de espera. As vontades, os desejos não podem mais existir. A atenção que se exige é demais. O amor é pesado. Há tanto tempo você o conhece. Do dedinho do pé até o último fio de cabelo. E um dia longe já é um dia que sufoca. E parece que quanto mais se sabe do amor, mais se perde a harmonia. Porque o que era bonitinho agora é feio. O que era necessário, hoje é bobeira. E, de alguma forma, a preguiça de regar é maior que o impulso de se levantar. Hoje me disseram que amor é aquilo que ele faz. Mas eu digo que o amor é, além disso, aquilo que ele te deixa sonhar. Amor não poda. Não flui sozinho não. Ele respira, dá espaço, sorri e acolhe acompanhado. Amor é música que, mesmo com seus tons altos e baixos, não sai da sintonia. Amor, meu amigo, é pura arte.

Thais Viotto.

21 de outubro de 2010

Meu mudo, mudo amor


Quantos amores discretos já não passaram por essa Terra? Amores sem alardes, sem escândalos, sem cobiça. Esses devem ser os melhores amores: silenciosos. Quantos sorrisos não foram dados em secreto? Quantos dedos não se entrelaçaram sem que ninguém soubesse? Quantos "eu te amo" já não foram ditos sem que houvesse necessidade de divulgação? Um amor quietinho, quase mudo. Ah, sentimentos ocultos. Queria ser uma formiguinha. Passar o dia inteiro numa praça esperando o casal certeiro, aquele bem velhinho mas muito, muito guerreiro. E o mais importante: imperceptíveis de tão discretos. Os avistaria de mãos dadas, mudos, mas numa intensa sintonia. E logo gritaria: Ei, psiu, descobri vocês! Eles talvez se assustariam. Mas então eu explicaria a minha pressa para descobrir o quase perfeito amor. E passaria uma tarde inteira anotando fórmulas secretas e mudas para ser feliz. Simplesmente porque hoje me dei conta do seguinte: os amores que conheço são falados, estão quase estampados na primeira página do jornal. E eles são cheios de terceiras pessoas, brigas, ausências. Mas os amores quietinhos...Ah, os amores quietinhos. Eles amam muito, mas divulgam pouco. Eles sentem muito, mas conservam sem medir consequências. Quero meu amor assim. Que os nossos encontros sejam secretos. Mistério no ar. Quero ser eu, e que ele seja ele. Mas que o nós seja só nosso. De mais ninguém. Mudo.

Thais Viotto.